terça-feira, 15 de novembro de 2011

O Arcadismo no Brasil.

No Brasil, o rompimento com estética  barroca começou com a Publicação de Obras, de Cláudio Manuel da Costa, em 1768. Este movimento permaneceu como tendência literária até 1836, quando se inicia o Romantismo.                                                                                          
O Arcadismo também ficou marcado por dois aspectos centrais. O dualismo dos escritores brasileiros do século XVIII, que, ao mesmo tempo, seguiam os modelos culturais europeus e se interessavam pela natureza e pelos problemas específicos da colônia brasileira; e a influência das ideias iluministas sobre os escritores e intelectuais brasileiros, que resultou no movimento da Inconfidência Mineira e seus trágicos resultados: prisão, morte, exílio, enforcamento.
 Como no Brasil não existiu uma Arcádia como em Portugal, a concentração do arcadismo brasileiro foi  principalmente em Vila Rica (hoje Ouro Preto), Minas Gerais, onde um grupo de intelectuais se destacou na arte literária e na prática política, com grande participação na Inconfidência Mineira, seu aparecimento teve relação direta com o grande crescimento urbano verificado nas cidades mineiras do século XVIII, cuja base econômica era a extração de ouro. Este grupo era constituído por Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga,  Inácio José de Alvarenga Peixoto e outros.
 O crescimento espantoso dessas cidades favorecia tanto a divulgação de ideias políticas quanto o florescimento de uma literatura cujos modelos os jovens brasileiros - foram buscar em Coimbra, já que a colônia não lhes oferecia cursos superiores. E, ao retornarem de Portugal, traziam consigo as ideias iluministas que faziam fermentar a vida cultural portuguesa à época das inovações políticas e culturais do ministro Marquês de Pombal, adepto de algumas ideias da Ilustração.
 Essas ideias, em Vila Rica, levaram  vários intelectuais e escritores a desejarem  a independência do Brasil, principalmente após a repercussão da independência dos Estados Unidos da América (1776). Tais sonhos culminaram na frustrada Inconfidência Mineira (1789).

Imagem do arcadismo no Brasil



Características do arcadismo no Brasil:
 - apego aos valores da terra: a simplicidade na poesia e a ideia de abolir as inutilidades (inutilia truncat) foram os objetivos dos árcades brasileiros. Como a concentração foi em Minas Gerais, nasce um nativismo que incorporou os valores da terra ao ideário da estática bucólica, em alta no arcadismo.
 - Incorporação do elemento indígena: a valorização do índio foi destaque  nesta época, era o reflexo do “bom selvagem”, de Rousseau, onde a natureza faz o homem feliz e bom, mas a sociedade o corrompe.
- Sátira política:  um exemplo foi Cartas Chilenas, onde é bem clara a sátira política aos tempos difíceis da exploração portuguesa e à corrupção dos governos coloniais.

- A febre do ouro
Ainda que a literatura e o cinema brasileiros pouco tenham utiliza­do a corrida do ouro de Minas Gerais como matéria-prima para um romance ou filme, a "auri sacra fames" que inflamou os espíritos foi admiravelmente descrita pelo jesuíta italiano João Antônio Andreoni em seu extraordinário "Cultura e Opulência do Brasil por suas Drogas e Minas", escrito sob o pseudônimo de André João Antonil. Embora não tratasse apenas das minas (que só ocupam um quarto do livro e onde Antonil nunca esteve), o livro faz a mais vívida descrição delas. Lançado em 6 de março de 1711, foi proibido dez dias depois e teve sua primeira edição destruída. O livro só voltou a ser publicado em 1898, depois de Capistrano de Abreu ter descoberto que Antonil e Andreoni (nascido em Luca em 1649 e morto em 1716) eram a mesma pessoa. Quando "Cultura e Opulência do Brasil" foi lançado, as autoridades perceberam que o texto aumentaria o já incontrolável fluxo de migrantes. Pelo que escreveu, Andreoni sabia disso: “A sede insaciável do ouro estimulou a tantos a deixarem suas terras e a por caminhos tão ásperos, como são os das minas, que dificultosamente se poderá dar conta do mínimo das pessoas que atualmente lá estão. (...) Dizem que mais de 30 mil almas se ocupam, umas em catar, outras em mandar catar nos ribeiros do ouro; outras em negociar, vendendo e comprando o que se há senhor não só para a vida, mas para regalo, mais que nos portos de mar. Cada ano vem nas frotas quantidades de portugueses e estrangeiros. Das cidades, vilas, recôncavos e sertões do Brasil vão brancos, pardos e pretos, e muitos índios de que os paulistas se servem. A mistura é de toda a condição de pessoas: homens e mulheres, moços e velhos, pobres e ricos, nobres e plebeus, padres e clérigos”.
Imagem da febre do ouro
- Inconfidência Mineira
Os escritores árcades mineiros tiveram participação direta no movimento da Inconfidência Mineira. Chegados de Coimbra com ideias enciclopedistas e influenciados pela independência dos EUA, divulgaram os sonhos de um Brasil independente e contribuíram para a organização do grupo inconfidente. Esses escritores eram Tomás Antônio Gonzaga, Alvarenga Peixoto e Cláudio Manuel da Costa.
 Do grupo, apenas um homem não tinha a mesma formação intelectual dos demais nem era escritor: o alferes Tiradentes (dentista prático), maçom e simpatizante dos ideais iluministas.
 Com a traição de Joaquim Silvério dos Reis, que devia vultosas somas ao governo português, o grupo foi preso. Todos, com exceção de Tiradentes, negaram sua participação no movimento. Cláudio Manuel da Costa, segundo versão oficial, suicidou-se na prisão antes do julgamento.
 No julgamento, vários inconfidentes foram condenados à morte por enforcamento, dentre eles Tiradentes e Alvarenga Peixoto. Tomás Antônio Gonzaga e outros foram condenados ao exílio temporário ou perpétuo. Tiradentes assumiu para si a responsabilidade da liderança do grupo.
 No dia 20 de abril de 1792, foi comutada a pena de todos os participantes, excluindo Tiradentes, enforcado no dia seguinte. Seu corpo foi esquartejado e exposto por Vila Rica; seus bens, confiscados; sua família, amaldiçoada por quatro gerações; e o chão de sua casa foi salgado, para que dele nada mais brotasse.
Imagem da inconfidência Mineira
- Principais Representantes:
1. Tomás Antônio Gonzaga:
Tomás Antônio Gonzaga nasceu em Portugal (Porto, 11/08/1744) e morou em Salvador, Bahia, entre os 7 e os 17 anos de idade.  Formou-se em Direito em Coimbra e permaneceu lá, até 1782, quando foi nomeado ouvidor( juiz) de Vila Rica e retornou ao Brasil. Logo tornou-se amigo de Cláudio Manuel da Costa, onde foi influenciado para a produção poética. Sua obra  lírica de maior destaque foi: Marília de Dirceu (um conjunto de liras).Esta poesia foi tipicamente árcade, visto que estava presa aos esquemas bucólicos e pastoris. Nesta obra Dirceu, o pastor, é também, um funcionário público, juiz, quarentão, que amava uma moça de uns 17 anos, e com o sonho da estabilidade de um lar burguês cheio de filhos. A obra foi escrita em três partes que correspondem a momentos históricos diferentes na vida do poeta. A I parte em liberdade, onde predominam as convenções neoclássicas, como os cortejos amorosos de pastores, as cançonetas anacrônicas, os locos amenos, e as referências mitológicas. O pastor faz a corte à pastora Marília e tentas convencem-lhe da felicidade no casamento. Também ocorre a referência ao tema carpe diem, onde aparece a preocupação de Gonzaga com a própria idade. A II na prisão é bem notada devido às referências biográficas, como: o cárcere, o processo judicial, o medo, a perspectiva da morte, a solidão, e o sentimento de injustiça. E a III provavelmente logo após o degredo para a África. A expressão sentimental da obra dá-se, na maior parte das liras. Em alguns momentos das partes II e III, o autor escapa dos padrões árcades e desabafa a sua dor, o sentimento de medo do futuro e da morte e, sobretudo, a saudade de Marília. Nestes momentos, as liras adquirem um caráter pré-romântico.
 “ Eu tenho um coração maior que o mundo!
   Tu, formosa Marília, bem o sabes:
       Um coração..., e basta.
      “Onde tu mesma cabes;”
LIRA IV
 “ Marília, teus olhos
São réus, e culpados.
Que sofra, e que beije.
 Os ferros pesados
De injusto Senhor.
   Marília escuta
   Um triste pastor.
Mal vi teu rosto,
 O sangue gelou-se,
A língua prendeu-se,
Tremi, e mudou-se.
Das faces a cor.
     Marília escuta
     Um triste pastor. “
 Ele também teve destaque com uma obra satírica, onde sob pseudônimo de Critilo, satirizou os desmandos do governador de Minas Gerais, ou seja, faz ataques diretos ao despotismo do  Fanfarrão Minésio, em Cartas Chilenas.
Imagem de Tomás Antônio Gonzaga
- Marilia de Dirceu
As Liras de Tomás Antônio Gonzaga, popularmente conhecidas como Marília de Dirceu, constituem a obra poética de maior relevância do século XVIII do Brasil e do Neoclassicismo em língua portuguesa.
Duas tendências são perceptíveis nas liras de Gonzaga, assim como é possível observar na obra do português Bocage, da mesma época:
    O equilíbrio e o contentamento do Arcadismo, além da utilização das paisagens neoclássicas: o pastor, a pastora, o campo, a serenidade do local etc.;
   O pré-romantismo representado no emocionalismo, na manifestação pungente da crise amorosa e, logo após, na prisão, que reproduzem a crise existencial do poeta.
A todo o momento, a emoção rompe a estilização arcádica, surgindo, assim, uma poesia de alta qualidade e competência,
Dividida em duas partes mais uma terceira, cuja autenticidade é contestada por alguns críticos, Stefani Joanne narra o drama amoroso vivido por Gonzaga e Maria Dorotéia.
-Cartas Chilenas
Cartas chilenas Sob o pseudônimo de Critilo, Tomás Antônio Gonzaga ironiza nas Cartas chilenas a prepotência e os desmandos do governador Luís da Cunha Meneses, apelidado no texto de Fanfarrão Minésio. Ainda há algumas dúvidas a respeito da autoria desta obra satírica, mas todos os indícios apontam para o autor de Marília de Dirceu. O que já se tornou consenso é o caráter pessoal dos ataques, não havendo nenhuma insinuação nativista ou desejo de sublevação revolucionária nos mesmos.
2.Claudio Manoel da Costa
          Cláudio Manuel da Costa ( 1729 - 1789), também conhecido pelo pseudônimo pastoral de Glauceste Satúrnio, nasceu em Mariana, Minas Gerais, e, depois de estudar no Brasil com os jesuitas, completou seus estudos em Coimbra, onde se formou advogado. Em Portugal, tomou contato com as renovações da cultura portuguesa empreendidas por Pombal e Verney. Ali também conheceu as novidades literárias trazidas pela Arcádia Lusitana.
 De volta ao Brasil, Cláudio Manuel da Costa exerceu em Vila Rica a carreira de advogado e administrador. Sua carreira de escritor teve início com a publicação de Obras Poéticas. Em 1789, foi acusado de envolvimento na Inconfidência Mineira. Encontrado morto na prisão, à alegação oficial para a sua morte foi o suicídio.
 Com ampla formação cultural, Cláudio liderou o grupo de escritores árcades mineiros e soube dar continuidade apesar das limitações da colônia, a tradição de poetas clássicos. Seus sonetos apresentam notável afinidade com a lírica de Camões.
 O poeta cultivou  a poesia lírica e a épica. Na lírica tem destaque o tema de desilusão amorosa.
Na épica, Cláudio escreveu Vila Rica, poema inspirado nas epopeias clássicas, que trata da penetração bandeirante, da descoberta das minas, da fundação de Vila Rica e de revoltas locais. Suas obras podem ser mais bem entendidas se forem analisadas do seguinte modo:
 Poesia lírica:
 - uma poesia que serviu de transição entre o Barroco e o Arcadismo.
 - no  Arcadismo, Cláudio Manuel da Costa demonstra o pastoralismo como uma renúncia à visão religiosa de mundo.
 - Em suas Obras, pelo fato da  paisagem não ser campestre há uma  quebra das convenções do período, ele apresenta cenários dominados por pedras, rochas, grutas e penhascos, indicando as suas raízes mineiras. Pois ele recorre a fato que lembra a paisagem mineira.
Imagem de Claudio Manuel da Costa
3. Basílio da Gama:
Nasceu em 8 de abril de 1741, em São José do Rio das Mortes (hoje Tiradentes), Minas. Morreu em Lisboa, em 1795. Estudou com os jesuítas: era noviço quando Pombal decretou a expulsão dos padres do Brasil. Em 1795, expulsos os jesuítas, segue para Roma, onde seus mestres fazem que seja aceito na Arcádia Romana (fundada em 1690). Em Lisboa, é preso por suspeição de jesuitismo e condenado ao degredo. Se salva dirigindo um Epitalâmico (poema nupcial) à filha do Marquês de Pombal.
- O Uruguai
O Uruguai (1769), poema épico composto para exaltar os portugueses e satirizar os jesuítas do Brasil. O livro trata da luta que portugueses e espanhóis moveram contra indígenas e jesuítas em Sete Povos das Missões, no Uruguai (hoje Rio Grande do Sul), em 1759.
Imagem de Basílio da Gama
4.Frei José de Santa Rita Durão:
Frei José de Santa Rita Durão nasceu em Cata Preta, atual Santa Rita Durão, em Minas Gerais, em 1722. Iniciou seus estudos no Colégio dos Jesuítas, transferindo-se, aos nove anos de idade, para Portugal. Poucos anos depois ingressou na Ordem dos Eremitas de Santo Agostinho em 1737, em Lisboa e no ano seguinte, foi ordenado no Convento da Graça. Entre 1738 e 1745, aproximadamente, fez o curso de Filosofia e Teologia na Universidade de Coimbra (Portugal). Recebeu ordenação como presbítero em 1745. Em 1756 tornou-se doutor em Teologia pela Universidade de Coimbra.
-Caramuru
Uma de suas obras de destaque foi: Caramuru
Tema: A glorificação do colonizador branco e agente da catequese católica, Diogo Álvares Correia, que maravilhou os índios com um tiro de arcabuz na Bahia do século XVI, casando-se com a filha do cacique, Paraguaçu, e passando a viver entre eles. Outros aspectos.
 Louvação do índio que se converte à religião do dominador luso e o auxilia na conquista da terra.
 A cena mais famosa da epopeia é a morte da índia Moema, após a partida para a França de Diogo Álvares e sua noiva, Paraguaçu. Moema vai nadando atrás do navio até ser tragada pelas ondas.
 Obs. Há nesta epopeia uma forte influência de Os Lusíadas, de Camões.
Imagem de Frei José de Santa Rita Durão

3 comentários:

  1. ORIGEM DO NOME ARCADISMO
    O nome Arcadismo vem do nome ARCÁDIA, região da Grécia Antiga habitada por entidades mitológicas, caracterizada como uma floresta repleta de riquezas e de belezas naturais. Como a Literatura do século XVIII tem como tema central a natureza, nada melhor do que ter a Arcádia como fonte de inspiração (como modelo) e ARCADISMO como denominação do conjunto dessa Literatura.

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  2. Entre as características do movimento no Brasil, destacam-se a introdução de paisagens tropicais, como em Caramuru, valorização da história colonial, o início do nacionalismo e da luta pela independência e a colocação da colônia como centro das atenções.

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  3. Arcadismo no Brasil

    Desenvolve-se no Brasil com o Arcadismo a primeira produção literária adaptada à vida da colônia, já que os temas estão ligados à paisagem local. Surgem vários autores do gênero em Minas Gerais, centro de riqueza na época. Embora eles não cheguem a criar um grupo nos moldes das arcádias, constituem a primeira geração literária brasileira.A transição do Barroco para o Arcadismo se dá com a publicação, em 1768, do livro Obras Poéticas, de Cláudio Manuel da Costa (1729-1789), um dos integrantes da Inconfidência Mineira. Entre os árcades se destacam ainda o português que viveu no Brasil e participou da Inconfidência Mineira, Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810), autor de Marília de Dirceu e Cartas Chilenas; Basílio da Gama (1741-1795), autor do poema épico O Uraguai; Silva Alvarenga (1749-1814), autor de Glaura; e Frei Santa Rita Durão (1722-1784), autor do poema épico Caramuru. Apesar do engajamento pessoal, a produção literária desses autores não está a serviço da política. A escola predomina até o início do século XIX, quando surge o Romantismo.

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